Advaita: o Caminho sem Caminho

domingo, 17 de maio de 2015

CONCILIAR IDEIAS DISCORDANTES DE HOMENS DE DIFERENTES RELIGIÕES (1) - RAMANA MAHARSHI

O objetivo real de todas as religiões é conduzir ao despertar para a Verdade do Ser. 
Mas a Verdade do Ser é simples demais para a maioria das pessoas. Embora não exista ninguém que não tenha conhecimento do Ser, as pessoas não se interessam em ouvir falar d’Ele. Julgam que o Ser é de pouco valor. Querem saber de coisas remotas – do céu e do inferno, da reencarnação, e assim por diante. 
Amam o mistério, e não a verdade plena. E as religiões se adaptam a elas, para que, no final das contas, elas possam voltar ao Ser. Mas por que não procurar encontrar o Ser e habitar Nele imediatamente, sem maiores divagações? Os céus não podem estar separados daquele que os vê ou neles pensa: sua realidade é do mesmo grau que a do ego que deseja chegar até eles; portanto, os céus não existem separados do Ser, que é o céu verdadeiro.
“Um cristão não ficaria satisfeito a menos que lhe disséssemos que Deus está em algum céu distante, que ele não pode alcançar sem auxílio divino; que somente Cristo conheceu Deus e apenas ele pode levar os homens até Deus. Se lhe disséssemos que “o Reino dos Céus está dentro de você”, ele não entenderia o sentido simples dessa afirmação, mas iria buscar interpretações complexas e artificiais. Somente o espírito maduro pode compreender e aceitar a verdade simples e nua.
“A divergência entre ensinamentos é apenas aparente, e pode ser resolvida se praticarmos a autoentrega, rendendo-nos a Deus; isso conduzirá ao Ser, ao qual todos voltarão no final, porque Ele é a Verdade. A discordância entre os credos nunca será vencida através do debate de seus méritos, já que o debate é um processo mental. 
As crenças são mentais – existem apenas na mente, enquanto que a Verdade está além da mente. Portanto, a Verdade não está nos credos.” Por conseguinte não devemos ter muito estima pelos nossos credos.
“O conhecimento sagrado é volumoso, suas diferentes partes adaptando-se às necessidades das diversas espécies de buscadores. Cada buscador sucessivamente transcende porção após porção; aquilo que ele transcende torna-se, então, inútil e até mesmo falso para ele. Por fim, ele o transcende integralmente.”

PECADO ORIGINAL 

Certa vez perguntaram ao Sábio sobre a doutrina cristã do “pecado original” – segundo a qual todo homem nasce em pecado e só se liberta pela fé em Jesus Cristo. O Maharshi respondeu: “Diz-se que o pecado está no homem, mas não há existência humana no sono; a existência humana surge ao acordar, junto com o pensamento: ‘Eu sou este corpo’. Este pensamento é o verdadeiro pecado original e deve ser removido pela morte do ego, depois da qual não mais surgirá.” E explicou a verdade do cristianismo da seguinte maneira: “O corpo é a cruz; o ego é Jesus, o filho do homem quando é crucificado, e que ressurge como ‘Filho de Deus’, que é o glorioso Eu Real. Devemos perder o ego a fim de viver”. Podemos lembrar aqui que, de acordo com todos os sábios, a vida do ego não é verdadeiramente vida, mas morte.

HÁ CONHECIMENTO DO SER NO ESTADO SEM EGO? 

A verdade sobre o Estado sem ego é transmitida pelo Sábio por meio de negações. “O que se chama Conhecimento do Ser é aquele Estado em que nem pode haver conhecimento nem ignorância, pois o que é comumente considerado conhecimento não é verdadeiro conhecimento. O Ser é por si só o verdadeiro Conhecimento, porque brilha por si só – sem nada que possa se tornar objeto de Seu conhecimento ou que possa conhecê-Lo. Devemos compreender que o Ser não é o vácuo.” 
Como o Estado sem ego não é descrito para nós em termos positivos, muita gente está sujeita a concluir que não passa de um simples nada ou total aniquilação. Tal erro foi cometido por muitos pretensos seguidores do Iluminado Gautama Buda. Nesse ponto, o Sábio Ramana se acautela para que erro similar não seja feito por aqueles que venham a tornar-se seus discípulos, declarando que esse Estado não é um vácuo.
Uma vez que o Sábio está num plano onde não há ignorância nem conhecimento, ele não tem necessidade de apreender coisa alguma. Nem as escrituras sagradas lhe interessam, embora ele as possa ler a fim de explicar seu verdadeiro significado a quem lhe perguntar sobre isso. Assim, podemos compreender a seguinte declaração: “Até mesmo um homem culto deve curvar-se diante de um Sábio analfabeto. O homem analfabeto é simplesmente ignorante. O homem culto é um ignorante com cultura. O Sábio também é ignorante, porque nada existe para ele aprender.”

Os trechos acima estão contidos no Capítulo XII, do livro Maha Yoga, cujo autor é K. Lakshmana Sarma, baseados em ensinamentos de Ramana Maharshi, cuja cópia foi retirada do site “Advaita Vedanta a Visão Não Dual”

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