Advaita: o Caminho sem Caminho

sábado, 19 de novembro de 2016

DEIXA QUE O MOMENTO FLUA

SONHOS LÚCIDOS


Questionador: Despertamos toda manhã do sono noturno. Despertaremos do sonho do estado de vigília?

 Sim, despertamos, mas dizemos: "Oh, é muito cedo, e voltamos a dormir. Joguemos um pouco mais, sonhemos um pouco mais".
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Questionador: Quando sonho à noite, muito raramente percebo que estou sonhando e que queira despertar. Mas isso acontece durante o sonho do estado de vigília.

Perceba de que é antes de desejar o despertar é quando está desperto, porque tão-logo começa a querer que as coisas sejam diferentes, novamente está dormindo.

 Ao querer que as coisas sejam diferentes do que são, está levando as coisas à sério, e, assim,  outorgando realidade ao sonho. Nesse momento você voltar a dormir.

 Portanto, não tente acordar. Em vez disso entenda que está sempre totalmente desperto.
            
            É um equívoco comum pensar que quando há uma compreensão profunda da verdade, as coisas sejam diferentes, que o sonho desaparecerá e será substituído por um novo sonho, com uma história diferente.

 O que realmente acontece é que este sonho continua; Maya não muda. A diferença é que agora sabemos que Maya é Maya, sabemos que é um sonho no qual o corpo e a mente se encontram envolvidos. O sonho se torna um sonho lúcido, contudo não desaparece.

 Muitas vezes as pessoas pensam, "não é possível ter um conhecimento profundo da verdade, porque o sonho não mudou." É que o conteúdo do sonho não muda; o que de fato muda — a única diferença —, é que sabemos que isso é uma ilusão, ou em outras palavras, que não é a realidade última do que somos realmente.  

 Então, tudo se converte em um jogo, porque o conteúdo do sonho, em um dado momento, não importa. Ou apenas importa quão importa o placar quando jogamos tênis. Fingimos que importa, mas realmente não importa. Fazemos de tal modo que importa apenas para jogar o jogo, todavia, em última instância, não nos importa.


 A razão é porque nós gostamos de jogar, pois os jogos nos faz lembrar o grande jogo da vida. O motivo pelo qual gostamos de ver comédias é porque nos faz recordar da grande comédia da vida. O que é um drama para o ignorante, para o sábio é uma comédia.
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Francis Lucille

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Tantra do Colar de Pérolas

Instruções Upadesha da Grande Perfeição


Não sou um objeto que possa ver.
Apareço antes de tudo.
Sou a totalidade do vazio e o aperfeiçoado.
Sou maior que qualquer coisa.

Não tenho caminho para percorrer.
Fui para a outra margem disso tudo.
Sou totalmente sozinho,
Mas sou conectado a tudo.

Não possuo base em que viver.
Dependo de tudo.
Não tenho nenhum rival que competir.
Sou sozinho com todos.

Não tenho dualidade entre matéria e consciência.
Sou completamente difundido.
Visto o manto da escuridão,
E apresento minha aparência a todos.

Fiz viagens através de uma vasta essência.
Meus poderes são também grandes.
Fiquei impressionado com o sabor do oceano,
Assim, a minha barriga é grande.
Coloquei uma montanha numa semente de gergelim.
Meus trabalhos são grandes.
Tenho usado o manto da escuridão.
Sou um grande herói.

Cruzei samsara e nirvana
Num único passo.
Sou uma ponte.
Toquei a terra inteira num único momento.
Meu corpo é muito pesado.

Descanso no trono do sol e da lua.
Estou muito estupefado.
Aperfeiçoei o samsara e nirvana num único momento.
Sou além de qualquer esforço.

Todas as coisas que não têm mentes pensantes
Surgem dentro de mim.
Sou a origem.
Aparências surgem sem interrupção para mim.
Sou o auto-alvorecer.

Não há compreensão ou não compreender-me
Sou o Buda primordial.
Não tenho esperança ou medo.
Aperfeiçoei o samsara e nirvana ao mesmo tempo.

De: O Tantra do Colar de Pérolas: Instruções Upadesha da Grande Perfeição

Christopher Wilkinson

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Uma Introdução ao Advaita

Uma Introdução ao Advaita

O Ensinamento Vivo da Não-Dualidade

Não-Dualidade

Advaita é uma palavra composta do sânscrito que significa "não dois".

Embora possa referir-se a qualquer coisa, é uma palavra muito importante na tradição espiritual Védica, porque indica um fato importante sobre a natureza da consciência, o Si Mesmo.

A parte dos Vedas que lidam com o tema da iluminação é chamado Vedanta.
Vedanta sustenta que a realidade é advaita, "não-dois". Isto significa que a distinção sujeito-objeto, que é a característica que mais se sobressai daquilo que os indivíduos não iluminados consideram que é a realidade, não existe realmente, ainda que pareça.

Este é um fato muito importante sobre a existência, porque é a distinção entre sujeito e objeto, que é responsável por grande parte do sofrimento existencial que caracteriza a vida humana. É a causa de todos os tipos de transtornos emocionais, porque ao aceitar a dualidade sujeito-objeto como um fato coloca o indivíduo em conflito com os objetos.

Na dualidade, o sujeito, a pessoa que foi condicionada a acreditar que sou, considera a si mesmo como limitada e incompleta. Devido a este fato, ele ou ela sente que necessita de objetos — uma casa, um trabalho, um relacionamento, filhos, etc — para eliminar a sensação de "incompletude" associada a sua condição de sujeito. Ele ou ela deve desenvolver estratégias para alcançar os objetos desejados e evitar objetos indesejados.

Buscar e evitar os objetos representa um sofrimento considerável. Devido a que tanto o sujeito quanto os objetos estão submetidos a mudanças, enquanto estão no tempo, onde a dualidade existe, é difícil obter e conservar os objetos desejados.

O tempo, a característica mais marcante da dualidade, coloca uma ênfase considerável no tema também. Seus desejos estão mudando constantemente. Ao se conseguir um objeto, se produz uma transformação no sujeito, que por sua vez provoca uma mudança na sua relação com o objeto. O atrito constante causado pela interação entre o sujeito e objetos inevitavelmente conduz a perda de energia e a morte.

O Vedanta sustenta que a dualidade é meramente uma crença produzida pela ignorância da natureza da realidade, não um fato. Com efeito, a realidade é não-dual. Isto significa que a distinção entre sujeito e objeto não existe realmente. O sujeito não é diferente dos objetos. Sujeito e objetos são manifestações aparentes do Si Mesmo [Ser] ou a Consciência não-dual.

A Iluminação é a libertação do sofrimento que surge quando a natureza não-dual do Si Mesmo é totalmente percebida. Quando já não se percebe a si mesmo como separado do mundo dos objetos — sim, as pessoas também são objetos na dualidade — o conflito desaparece e o sujeito é liberado do desejo de obter e conservar objetos.

O Vedanta é um modo de investigação comprovado ao longo do tempo sobre a natureza da realidade, que em última instância resolve a dualidade ‘sujeito-objeto’, revelando a natureza não-dual do Si Mesmo.

James Swartz