Advaita: o Caminho sem Caminho

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

ALEGRIA E FELICIDADE


ILUSÃO E REALIDADE


VISITANTE: A pessoa que está na realidade fica numa felicidade/alegria muito grande. Então a realidade se expressa através duma grande alegria, um grande amor, será que é sempre uma ilusão?

RANJIT MAHARAJ: A realidade é sempre realidade, idêntica a ela mesma, então porque falar da sua expressão através da felicidade? 
Por exemplo: se você esqueceu sua carteira e alguém lhe devolve, você está feliz, mas de fato só lhe é devolvido o que lhe pertence. É um estado de alegria passageiro, mas se você entender corretamente, isso não tem nada a ver com a realidade. Você sentia apenas que a realidade estava perdida, esse sentimento é somente devido á ignorância, e quando você se encontrou novamente, não é mais questão de alegria. Então essa expressão de alegria é também ilusão, porque quem expressa essa alegria? A realidade é uma.

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É porque você se esqueceu de que essa questão sobre a felicidade tem relevância para você, mas até na ignorância você é o mesmo, idêntico a você – mesmo, jamais é alterado. 
As nuvens estão ali, não pode ver o sol, as nuvens desaparecem, porque o sol deveria estar feliz? O sol não tem de se preocupar de seja o que for. Quando as nuvens estavam ali, ninguém o via, mas ele estava nele - mesmo. Assim a alegria e a paz que você sente no desaparecimento das nuvens são também ilusões, porque seja como for, o sol nunca foi recoberto, apenas você não podia vê-lo. Porque deveria sentir alegria? Alegria e felicidade são sempre sintomas da ilusão. A carteira lhe é devolvida, mas já era sua.

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É verdade que é pela graça do mestre que você se reencontra, mas o mestre não ressente que é graça a ele. Você o respeita por isso, porque fez desaparecer a ilusão, mas se ele se responsabilizar, “eu fiz”, isso quer dizer que não é realizado. Você esqueceu que é a ilusão e ele lhe diz: a realidade é sempre realidade.

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Você sente que é limitado, alienado, mas nunca é, é por causa da ignorância que você se sente preso no sofrimento, mas os problemas são ilusão, não existem. 
E se por acaso os problemas e a desgraça vierem até você nessa ilusão, os aceite, porque é assim que o ego desaparecerá. Mas o ignorante não aceita nunca que a infelicidade chegue perto dele, enquanto que aquele que entende diz “que todas as infelicidades vêm até mim”, porque sabe que é assim que o ego desaparecera mais rapidamente. 

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O ego é sempre a procura do que é mais positivo para ele: “devo ser respeitado, amado, reconhecido...”. Quando é ferido pela compreensão, você não deve sentir essa ferida porque o ego é um problema para você, então permita que morra, se morrer, é para melhor, é a ilusão que morre. Se o ego morrer, seja feliz, até expresse exteriormente sua alegria porque o inimigo desapareceu.


RANJIT MAHARAJ