Advaita: o Caminho sem Caminho

sábado, 24 de dezembro de 2016

OBJETOS, AQUISIÇÕES E FELICIDADE

A natureza da felicidade.


Se fizermos uma pesquisa entre os sete bilhões de pessoas que vivem hoje em nosso planeta, e perguntássemos o que eles o que mais querem na vida, quase todos responderiam "SER FELIZ".

...

Algumas pessoas não poderiam formular esta resposta diretamente e diriam por exemplo que querem um companheiro(a), uma família, ou mais dinheiro - mas tudo isso é somente desejado pela felicidade que produz. Na verdade, a maior parte das atividade que realizamos, as realizamos com a perspectiva de felicidade. Em nossa busca pela felicidade começamos explorando as possibilidades que estão disponíveis em áreas convencionais do corpo, da mente e do mundo.
Desde pequenos descobrimos que a aquisição de um objeto do nosso desejo, parece produzir a felicidade que tanto desejamos. Como resultado, é estabelecido em nossas vidas, um fato fundamental: a correlação entre a aquisição de objetos, atividades e relações e a experiência da felicidade.

...

No entanto, depois de um tempo, e embora possa ser que continuamos na posse do objeto desejado - seja um objeto físico, um relacionamento, uma atividade ou um estado mental - a experiência da felicidade que parecia produzir, se vai desvanecendo. Isso deveria bastar para que nos déssemos conta de que a felicidade não é o resultado da aquisição de objetos, relações ou estados alterados.
Se a felicidade tivesse relação com os objetos, deveria seguir enquanto estes continuassem presentes.


...

Em vez de assumir esta mensagem tão simples, nós nos limitamos a descartar o objeto que uma vez pareceu nos dar felicidade e buscamos outro em seu lugar, com a esperança de que nos devolverá a felicidade que de novo nos falta. Na verdade este padrão de perseguir um objeto atrás do outro, constitui uma tentativa de obter a felicidade, a paz e o amor.
E é o padrão básico com que a maioria das pessoas governam suas vidas.


...

Após o repetido fracasso dos objetos habituais de desejo que nos trouxeram felicidade, começamos a explorar outras opções.
Então podem ocorrer duas coisas: ou bem nos submergimos nos campos convencionais do trabalho, de dinheiro, da comida, ou o sexo e as relações - cada vez mais, até se chegar a obsessão, a qual nos leva a um nível ou outro de vício, ou bem retiramos nossa atenção do campo das possibilidades convencionais e empreendemos uma busca espiritual.


...

A busca espiritual geralmente acontece depois que os campos de experiência falharam em nos conduzir à felicidade, à paz e ao amor. Já não conseguimos a felicidade, a qual parece que só podemos perceber em momentos fugazes, agora então, buscamos um estado de iluminação permanente.
No entanto, nossa busca pela iluminação não é nada além de uma reorientação da busca convencional da felicidade.


...

Esta busca nos leva à novos âmbitos de experiências. Agora tendemos à centrarmos mais na aquisição de estados mentais do que em objetos ou relações mundanas; E assim, como a obtenção de um objeto, ou relação põem fim temporariamente a essa busca convencional, dando-nos uma breve degustação da felicidade, agora, estes estados mentais recentemente adquiridos, supõem o final temporal da busca espiritual. Nos proporcionam uma vez mais um vislumbre da mesma felicidade, que agora denominamos de iluminação ou despertar. Da mesma maneira que antes havíamos nos confundido com a aquisição de objetos e relações com a fonte da felicidade, confundimos agora estes novos estados mentais com a iluminação.

...

Ocorre que os breves momentos de felicidade que temos agora, são rapidamente eclipsados, como acontecia com os momentos de felicidade de antes, graças aos velhos padrões que nos levam sempre a buscar a felicidade, a paz e o amor nos objetos, as relações e agora, nos estados alterados.
...
O resultado é que nós somos novamente confrontados com o fracasso de nossa busca, só que desta vez não nos restam mais âmbitos para serem explorados.

...

Assim como o filho pródigo, nós temos nos aventurado dentro de um país distante, perseguindo a felicidade, e agora já temos esgotado todas as possibilidades de encontrá-la.

...

Alguns experimentam este fracasso como um tempo de crise ou desespero. Já não existem mais direções para seguir, e ainda não alcançamos a tão desejada felicidade. Os meios habituais de levar a busca até o fim, ou ao menos evitar o incômodo que ela provoca - atividades, relações ou estados mentais mais sutis, meditativos - podem até tê-la entumecido temporariamente, mas ainda arde essa busca em nossos corações.
Não sei onde nem o quê buscar e mesmo assim, preciso fazê-lo!


...

Todos nós temos que chegar a estes extremos. Em alguns casos a inteligência e não a decepção, é o que precipita a compreensão de que aquilo que realmente buscamos não pode ser encontrado em nenhum estado do corpo, nem da mente, ou do mundo.
De fato, é sempre nossa própria inteligência inata que está operando. No caso de algumas pessoas, acontecem na forma de uma crise que golpeia o núcleo de nossas vidas; no caso de outras, esta crise pode ser menos acentuada.


...

Seja como seja, em qualquer dos casos, pode abrir-se uma nova porta, a única que não foi explorada ainda.
Se abre no momento em que nos perguntamos quem é esse eu que se põem em busca quase que constante da felicidade e qual é a natureza dessa felicidade.


...

Este é o momento em que o filho pródigo se dá conta de que precisa voltar para casa."

Ruper Spira

sábado, 19 de novembro de 2016

DEIXA QUE O MOMENTO FLUA

SONHOS LÚCIDOS


Questionador: Despertamos toda manhã do sono noturno. Despertaremos do sonho do estado de vigília?

 Sim, despertamos, mas dizemos: "Oh, é muito cedo, e voltamos a dormir. Joguemos um pouco mais, sonhemos um pouco mais".
...

Questionador: Quando sonho à noite, muito raramente percebo que estou sonhando e que queira despertar. Mas isso acontece durante o sonho do estado de vigília.

Perceba de que é antes de desejar o despertar é quando está desperto, porque tão-logo começa a querer que as coisas sejam diferentes, novamente está dormindo.

 Ao querer que as coisas sejam diferentes do que são, está levando as coisas à sério, e, assim,  outorgando realidade ao sonho. Nesse momento você voltar a dormir.

 Portanto, não tente acordar. Em vez disso entenda que está sempre totalmente desperto.
            
            É um equívoco comum pensar que quando há uma compreensão profunda da verdade, as coisas sejam diferentes, que o sonho desaparecerá e será substituído por um novo sonho, com uma história diferente.

 O que realmente acontece é que este sonho continua; Maya não muda. A diferença é que agora sabemos que Maya é Maya, sabemos que é um sonho no qual o corpo e a mente se encontram envolvidos. O sonho se torna um sonho lúcido, contudo não desaparece.

 Muitas vezes as pessoas pensam, "não é possível ter um conhecimento profundo da verdade, porque o sonho não mudou." É que o conteúdo do sonho não muda; o que de fato muda — a única diferença —, é que sabemos que isso é uma ilusão, ou em outras palavras, que não é a realidade última do que somos realmente.  

 Então, tudo se converte em um jogo, porque o conteúdo do sonho, em um dado momento, não importa. Ou apenas importa quão importa o placar quando jogamos tênis. Fingimos que importa, mas realmente não importa. Fazemos de tal modo que importa apenas para jogar o jogo, todavia, em última instância, não nos importa.


 A razão é porque nós gostamos de jogar, pois os jogos nos faz lembrar o grande jogo da vida. O motivo pelo qual gostamos de ver comédias é porque nos faz recordar da grande comédia da vida. O que é um drama para o ignorante, para o sábio é uma comédia.
...

Francis Lucille

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Tantra do Colar de Pérolas

Instruções Upadesha da Grande Perfeição


Não sou um objeto que possa ver.
Apareço antes de tudo.
Sou a totalidade do vazio e o aperfeiçoado.
Sou maior que qualquer coisa.

Não tenho caminho para percorrer.
Fui para a outra margem disso tudo.
Sou totalmente sozinho,
Mas sou conectado a tudo.

Não possuo base em que viver.
Dependo de tudo.
Não tenho nenhum rival que competir.
Sou sozinho com todos.

Não tenho dualidade entre matéria e consciência.
Sou completamente difundido.
Visto o manto da escuridão,
E apresento minha aparência a todos.

Fiz viagens através de uma vasta essência.
Meus poderes são também grandes.
Fiquei impressionado com o sabor do oceano,
Assim, a minha barriga é grande.
Coloquei uma montanha numa semente de gergelim.
Meus trabalhos são grandes.
Tenho usado o manto da escuridão.
Sou um grande herói.

Cruzei samsara e nirvana
Num único passo.
Sou uma ponte.
Toquei a terra inteira num único momento.
Meu corpo é muito pesado.

Descanso no trono do sol e da lua.
Estou muito estupefado.
Aperfeiçoei o samsara e nirvana num único momento.
Sou além de qualquer esforço.

Todas as coisas que não têm mentes pensantes
Surgem dentro de mim.
Sou a origem.
Aparências surgem sem interrupção para mim.
Sou o auto-alvorecer.

Não há compreensão ou não compreender-me
Sou o Buda primordial.
Não tenho esperança ou medo.
Aperfeiçoei o samsara e nirvana ao mesmo tempo.

De: O Tantra do Colar de Pérolas: Instruções Upadesha da Grande Perfeição

Christopher Wilkinson

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Uma Introdução ao Advaita

Uma Introdução ao Advaita

O Ensinamento Vivo da Não-Dualidade

Não-Dualidade

Advaita é uma palavra composta do sânscrito que significa "não dois".

Embora possa referir-se a qualquer coisa, é uma palavra muito importante na tradição espiritual Védica, porque indica um fato importante sobre a natureza da consciência, o Si Mesmo.

A parte dos Vedas que lidam com o tema da iluminação é chamado Vedanta.
Vedanta sustenta que a realidade é advaita, "não-dois". Isto significa que a distinção sujeito-objeto, que é a característica que mais se sobressai daquilo que os indivíduos não iluminados consideram que é a realidade, não existe realmente, ainda que pareça.

Este é um fato muito importante sobre a existência, porque é a distinção entre sujeito e objeto, que é responsável por grande parte do sofrimento existencial que caracteriza a vida humana. É a causa de todos os tipos de transtornos emocionais, porque ao aceitar a dualidade sujeito-objeto como um fato coloca o indivíduo em conflito com os objetos.

Na dualidade, o sujeito, a pessoa que foi condicionada a acreditar que sou, considera a si mesmo como limitada e incompleta. Devido a este fato, ele ou ela sente que necessita de objetos — uma casa, um trabalho, um relacionamento, filhos, etc — para eliminar a sensação de "incompletude" associada a sua condição de sujeito. Ele ou ela deve desenvolver estratégias para alcançar os objetos desejados e evitar objetos indesejados.

Buscar e evitar os objetos representa um sofrimento considerável. Devido a que tanto o sujeito quanto os objetos estão submetidos a mudanças, enquanto estão no tempo, onde a dualidade existe, é difícil obter e conservar os objetos desejados.

O tempo, a característica mais marcante da dualidade, coloca uma ênfase considerável no tema também. Seus desejos estão mudando constantemente. Ao se conseguir um objeto, se produz uma transformação no sujeito, que por sua vez provoca uma mudança na sua relação com o objeto. O atrito constante causado pela interação entre o sujeito e objetos inevitavelmente conduz a perda de energia e a morte.

O Vedanta sustenta que a dualidade é meramente uma crença produzida pela ignorância da natureza da realidade, não um fato. Com efeito, a realidade é não-dual. Isto significa que a distinção entre sujeito e objeto não existe realmente. O sujeito não é diferente dos objetos. Sujeito e objetos são manifestações aparentes do Si Mesmo [Ser] ou a Consciência não-dual.

A Iluminação é a libertação do sofrimento que surge quando a natureza não-dual do Si Mesmo é totalmente percebida. Quando já não se percebe a si mesmo como separado do mundo dos objetos — sim, as pessoas também são objetos na dualidade — o conflito desaparece e o sujeito é liberado do desejo de obter e conservar objetos.

O Vedanta é um modo de investigação comprovado ao longo do tempo sobre a natureza da realidade, que em última instância resolve a dualidade ‘sujeito-objeto’, revelando a natureza não-dual do Si Mesmo.

James Swartz

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ESTADO NATURAL DE SER

ESTADO NATURAL DE SER


Existem, de fato, boas e específicas razões porque algumas práticas de meditação, incluindo o tipo de meditação com a qual eu estive envolvido, não levam a este prometido estado de transformação.

A principal razão é, na verdade, extraordinariamente simples e, portanto, fácil de não ser notada: nós aproximamos-nos da meditação com a atitude errada. 

Nós realizamos a nossa meditação com uma atitude de controle e manipulação, e essa é a razão pela qual a nossa meditação nos conduz, ao que parece ser, um beco sem saída.

O estado desperto de ser, o estado iluminado de ser, também pode ser chamado de estado natural de ser. Como pode o controle e a manipulação levar-nos ao nosso estado natural?


Adyashanti