Advaita: o Caminho sem Caminho

domingo, 20 de dezembro de 2015

RODA SAMSARA - CICLO DE NASCIMENTO E MORTE - HISTÓRIA ZEN

O QUE É SAMSARA - HISTÓRIA ZEN


Perguntas do Rei Milinda
Durante uma conversa, o rei Milinda perguntou ao Bodhisattva Nagasena:
- Que é o Samsara?
Nagasena respondeu:
- Ó grande rei, aqui nascemos e morremos, lá nascemos e morremos, depois nascemos de novo e de novo morremos, nascemos, morremos... Ó grande rei, isso é Samsara.
Disse o rei:
- Não compreendo; por favor, explicai-me com mais clareza.
Nagasena replicou:
- É como o caroço de manga que plantamos para comer-lhe o fruto. Quando a grande árvore cresce e dá frutos, as pessoas os comem para, em seguida, plantar os caroços. E dos caroços nasce uma grande mangueira, que dá frutos. Desse modo, a mangueira não tem fim. E assim, grande rei, que nascemos aqui, morremos ali, nascemos, morremos, nascemos, morremos. Grande rei, isso é Samsara.
Em outro Sutra, o rei Milinda pergunta ainda:
- Que é o que renasce no mundo seguinte (Depois da morte.)
Responde Nagasena:
- Depois da morte nascem o nome, a mente e o corpo.
O rei pergunta:
- É o mesmo nome, o mesma mente e o mesmo corpo que nascem depois da morte?

- Não é o mesmo nome, o mesma mente e o mesmo corpo que nascem depois da morte. Esse nome, essa mente e esse corpo criam a ação. Pela ação, ou Karma, nascem outro nome, outra mente e outro corpo.

HISTÓRIAS ZEN


CONSCIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA


CONSCIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA


Q: Você diz que tudo é o Ser, mesmo. Se isto é assim, por que não consigo ver claramente o Ser? Por que está ele escondido de mim?

Annamalai Swami: Porque você está olhando na direção errada. 
Você tem a ideia de que o Ser é algo que você vê ou experiência. Isto não é assim. O Ser é a consciência na qual a visão e a experiência ocorrem.

Se as pessoas estivessem conscientes da consciência, em vez de nas formas que aparecem nela, elas iriam perceber que todas as formas são apenas aparências que se manifestam dentro da única consciência indivisível.

Essa consciência é o Ser que você está procurando. 
Você pode ser essa consciência, mas você nunca poderá vê-la, porque ela não é algo que esteja separado de você.


Annamalai Swami, discípulo de Ramana Maharshi


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A PURA CONSCIÊNCIA - DAYANANDA SARASVATI

A PURA CONSCIÊNCIA - DAYANANDA SARASVATI


"Acordamos pela manhã. O mundo está aí fora, como que nos esperando. Muitas coisas nos acontecem, algumas gostamos, outras nem tanto. Desde o ponto de vista da consciência relativa, assim é que vemos a vida. 
Esta é a vida e sua aparência habitual.

Desde o ponto de vista da pura consciência, o corpo é o mundo (e através dele) surgem em você cada manhã. Essa é a Realidade e não o contrário.
Tudo acontece neste espaço aberto que somos. Tudo absolutamente tudo, depende sua 'realidade' a esta Realidade que você é. 
As imagens de um espelho não podem existir sem o espelho...

A Realidade que somos, que nunca podemos negar, atua e vive em nós, através de nós, e como nós. Não há mais nada. Isto é tudo.

Agora, partindo deste ponto de referência limitado, este ego, ou pessoa, ou entidade (que acreditamos ser independente da Realidade), tudo parece ser caótico, incerto, limitado. Mas se olharmos com a atenção, este mesmo ponto de vista, este ego, não é por acaso uma aparência a mais na Totalidade, no Real? Um conjunto de pautas, de ritmos, nada distante do turbilhão de um riacho ou do vôo de uma abelha.

A Pura Consciência não é algo fixo, algo que começa aqui e termina ali. Este saber que somos, esta sensação de presença é como uma porta aberta. Se olharmos para dentro, mais e mais, acabamos em nós mesmos.

Se olharmos para fora, mais e mais, saímos do portal e mais além... o ilimitado, o insondável...

A Pura Consciência, onde 'fora' e 'dentro' são o mesmo espaço. Um só espaço.

Os limites são convenções, que emergem obviamente, desse único espaço.

Assim está tecida a realidade da vida. Mas este espaço de onde tudo surge é a plenitude. Já somos este espaço, mesmo que a nível pessoal, nada nos pertença.
O que surge a cada instante é o que somos.

Se buscamos e buscamos a plenitude e a paz, nos afastamos. Se esquecemos desta plenitude e desta paz, e nos entregamos completamente ao que surge, seja o que for, nos encontramos.
E ao encontrarmos, encontramos a paz e a plenitude."


Swami Dayananda Saraswati, em "Eu Sou este Ser, cuja natureza é consciência ilimitada"

domingo, 30 de agosto de 2015

A VIDA É UM SONHO - Dilgo Khyentse Rinpoche

"As diversas atividades da vida comum seguem uma depois da outra como ondas no mar. 
Os ricos nunca acham que têm dinheiro suficiente. 
Os poderosos nunca acham que têm poder suficiente. 
 Pense nisso: a melhor maneira de satisfazer todos os seus desejos e completar todos os seus projetos é abandoná-los todos.

Um ser realizado vê as preocupações das pessoas comuns como eventos de um sonho, e observa-as como um velho homem observando crianças a brincar. Na noite passada sonhou, talvez, que era um grande rei, mas quando acordou, o que sobrou? O que vivência acordado dificilmente tem mais realidade que isso.


Em vez de perseguir esses sonhos de névoa, deixe a sua mente descansar em serena contemplação, livre da agitação mental e da distração, até que a realização da vacuidade se torne parte integral da sua experiência."

Dilgo Khyentse Rinpoche 

em “The Hundred Verses of Advice“.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A CRENÇA DE QUE ESTOU SEPARADO DE DEUS

Só há uma questão a ser enfrentada antes de qualquer outra: a crença de que estou separado de Deus, da Fonte.
Esta crença é um simples pensamento deturpado sobre si mesmo, nada mais do que isso. Todos os aparentes erros decorrem desta crença de que estou separado da Fonte Original.

E qual a razão de se afirmar de que a separação não ocorreu e é somente uma crença?

A consciência não-dual é óbvia, natural, espontânea. Todos os livros sagrados falam desta unidade e pode-se sintetizá-la nas escrituras cristãs nas seguintes idéias: O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO SEPARA ou EU E O PAI SOMOS UM.

Esta crença da falsa separação (véu de maya entre os hindus) faz com que a consciência adormeça profundamente e de que o assim chamado ego apareça como um impostor —, em uma vã tentativa de querer tomar o lugar de Deus.

Com o surgimento deste falso eu surge a CULPA (pois se imagina que tomou o lugar de Deus), e consequentemente o MEDO de ser punido, que por sua vez faz aparecer todas as defesas como se estivéssemos sendo atacados, cujas defesas muitos dão o nome de defeitos psicológicos (sete pecados capitais), que por sua vez geram mais CULPA, mais MEDO, e assim por diante. Aqui começa samsara - a roda de nascimentos e de ver erro no outro.

É possível sair desta roda? Se a resposta é sim, como?

É na auto-observação de si mesmo por meio da indagação quem sou eu?, que acordamos deste sonho e nos lembramos da Filiação Divinal. Alguns sábios propõem Quem sou eu? (Sujeito), O que estou fazendo (Objeto?) Onde estou? (Lugar).
Estas são perguntas que não precisam ser respondidas, e tão pouco esquecidas. A pergunta, ou as perguntas, é para nos lembrarmos de quem somos, o que estamos fazendo, onde estamos, sem que precisemos respondê-las, pois ao se indagar, se auto inquirir, imediatamente, por si só, é lançada a Luz da Consciência sobre o falso eu, que desaparece como sombras sob esta LUZ.
Isto é uma tarefa muito simples e não exige nenhum grande esforço intelectual, e está acessível a todos.

Ao se ter a consciência da sua Origem brota o reconhecimento da própria LUZ, e como o exterior é o reflexo do interior (axioma bem conhecido e muito propagado nos meios espirituais), se reconhece no teu irmão a IGUALDADE da sua Filiação, e, assim, SOMOS TODOS UM. Eis aqui a genuína igualdade, isto é, a essência do amai-vos uns aos outros.

Só a Consciência é capaz de reconhecer a Si Mesma. E ela é UNA.

A parábola do filho pródigo está a lembrar de que o Filho parece ter se esquecido da sua Casa Original. Voltar para casa não é outra coisa senão acordar deste sonho. Acordar ou despertar significa que se deu conta (tomou consciência) de que sair de casa era só uma simples crença na separação da fonte, não mais que uma mera opinião deformada sobre si mesmo.

Adão é o filho que aparentemente adormeceu; mas Jesus é o mesmo filho que se lembrou da sua Fonte, reconheceu a sua Origem, e viu que nunca tinha saído da casa paternal, senão em sonho.

Na nossa percepção invertida (visão deturpada pelo falso eu) acreditamos que somos pecadores, defeituosos, incompletos, inadequados, e isto equivale a NEGAR a Deus, pois Ele deu um valor ao Filho que ninguém pode negar (quem poderia negar se Deus afirmou?).

E este valor de SER O QUE O CRIADOR É não necessita ser conquistado, pois já realizado pelo próprio Criador, pois no pensar/sentir que é um objetivo a ser alcançado estamos implicitamente afirmando que a obra de Deus é falha, e que depende de nós (do presunçoso ego) para ser completada.
É isto possível?

Há lógica em se afirmar que Deus (realidade) depende do ego (ilusão) para ver sua obra completa?

sábado, 8 de agosto de 2015

COMO SE ENCONTRAR - NISARGADHATA MAHARAJ

Aprofunde na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. 

Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? 

Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.

Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e ideias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você construiu ao redor de si mesmo, inadvertidamente.

Olhe para a rede [o mundo pessoal de cada um] e para suas muitas contradições. Você faz e desfaz a cada passo. Quer paz, amor, felicidade e trabalha arduamente para criar dor, ódio e guerra. Quer viver muito e se empanturra, quer amizade e explora. Veja sua rede como composta de tais contradições e remova-as – o seu próprio ver os fará ir embora.

Como você parte para achar algo? Mantendo sua mente e coração naquilo. Deve haver interesse e constante lembrança. Lembrar-se do que precisa ser lembrado é o segredo do sucesso. Você consegue isso através da seriedade de intenção.

Inicialmente, dê o primeiro passo. Todas as bênçãos vêm de dentro. Volte-se para dentro. O “Eu sou” você conhece. Fique com isto todo o tempo que puder, até que você sempre volte a isso espontaneamente. Não existe caminho mais fácil ou simples.

Somos escravos daquilo que não conhecemos; do que conhecemos, somos senhores. Quaisquer vícios ou fraquezas em nós que conhecemos, descobrimos e entendemos suas causas e seus mecanismos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente sente-se adequada e torna-se quieta.

Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento “Eu sou!”. A mente vai se rebelar no começo mas, com paciência e perseverança, ela vai ceder e permanecer quieta.

Esteja alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo o que puder sobre a confusão, como isso opera, o que faz para você e para os outros. Ao ter clareza sobre a confusão você se liberta dela.

Eliminando os intervalos de desatenção durante as horas de vigília, você vai gradualmente eliminar o longo intervalo de inconsciência que chama de sono. Você estará consciente que está adormecido.


Nisargadatta Maharaj - Eu Sou Aquilo 

terça-feira, 28 de julho de 2015

APEGO - ROBERT ADAMS

APEGO


Mesmo se você odiar alguém, se você odiar alguém ou algo com paixão, isso é apego. 
Você voltará a esta terra, ou a um outro planeta semelhante à Terra, de novo, e de novo, e de novo, e você irá encontrar esta pessoa que você odeia tanto em circunstâncias diferentes, e novamente, e novamente.

Numa vez ela pode ser a sua filha, ela pode ser sua mãe, ela pode ser o seu marido, ela pode ser a sua esposa. Mas essa pessoa que você despreza tanto irá encontrar você de novo, e de novo, e irá fazer coisas a você, a fim de incomodá-lo. E você irá odiar novamente, e novamente. 
Você nunca será livre até que você compreenda.

A compreensão é virar para dentro, esquecer-se da pessoa, mas ver a sua própria realidade, rastrear o pensamento-eu até a fonte. Afinal, é o pensamento-eu que odeia e ama, que tem apego à pessoa, lugar ou coisa. 
Quando o pensamento-eu é transcendido, somente o Ser permanece.


Robert Adams

segunda-feira, 6 de julho de 2015

VENDER ÁGUA NA BEIRA DO RIO - ADYASHANTI


VENDER ÁGUA NA BEIRA DO RIO

por Adyashanti


Muitos buscadores não assumem a responsabilidade pela sua própria libertação, e esperam que uma grande experiência espiritual final os catapultará em direção a esta libertação.

É essa busca pela experiência libertadora final que dá origem a uma forma de desenfreado consumismo espiritual, no qual os buscadores vão de um mestre para outro, e até mesmo se sujeitam a comprar a iluminação, tal qual se compra doces em uma confeitaria. Esta promiscuidade espiritual está convertendo rapidamente a busca da iluminação em um culto de buscadores de experiências.

E, embora muitas dessas pessoas têm experiências fabulosas, na maioria dos casos elas não conduzem a uma profunda transformação do indivíduo, que é a expressão da iluminação.

Conversando regularmente com muitos buscadores espirituais, percebi como estão viciados no poder do carisma. Intercambiam-se histórias sobre o quão poderoso é este ou aquele mestre e põem-se a comparar experiências de um e outro. É certo que pagam um preço por isso, pois confundem carisma com iluminação. O carisma encontra-se em todos os níveis: político, sexual, espiritual, etc., e com isso se alimenta o desejo do ego de se sentir especial.

O ego se encanta ao receber elogios, e isto funciona como uma forma de bálsamo espiritual. Isto pode ser doce, mas pode-se viver dele? Fá-lo-á livre?
****************************************************************
Na minha experiência, todos dizem que querem descobrir a Verdade, até perceberem que a Verdade os despojará das suas mais profundas e arraigadas ideias, suas crenças, suas esperanças e seus sonhos.

A liberdade que advém da iluminação é muito mais do que a experiência de amor e de paz. Significa descobrir uma verdade que vai desconstruir a visão que se tem de si mesmo e da vida.

Para alguém que está realmente pronto, vai ser algo incrivelmente liberador. Mas para alguém que ainda está preso de uma forma ou de outra, vai ser extremamente desafiador.

Como saber se se está ou não preparado? Estará pronto quando estiver disposto a ser totalmente consumido e a ser o próprio combustível de um fogo sem fim.
****************************************************************
Se começar a jogar o jogo de ser "alguém iluminado", o verdadeiro mestre colocará a atenção em ti. Ele ou ela irá te desmascarar, e este desmascarar irá doer. Em virtude de o ego estar lá, à luz da Verdade, ficará desmascarado e também humilhado.

É óbvio que o ego "protestará!". Dirá que o mestre cometeu um equívoco e começará a justificar-se, em um esforço para colocar a sua armadura protetora. Começará a inventar justificativas com uma sutileza enganosa incrível.

Aqui é o lugar onde começa a verdadeira sadhana (prática) espiritual. Aqui é onde tudo se mostra demasiadamente real e o estudante irá descobrir se ele ou ela quer ser realmente livre, ou se quer continuar a ser o falso ego, independente e a se autojustificar.

Esta encruzilhada inevitavelmente se apresenta e é sempre um desafio. Ela separa o verdadeiro buscador do falso. O verdadeiro buscador estará disposto a se abrir para a graça da humildade, enquanto que o falso buscador fugirá dela.

Assim começa o verdadeiro caminho até a iluminação, outorgada apenas para aqueles que estão dispostos a ser nada. O descobrimento desse “nada-nada” abre a porta do despertar para o ser, e mais além, até a Fonte de todo ser.
****************************************************************
Eu acho que a iluminação não vai te fazer especial. Não.
Se te sentes especial, de alguma forma, então a iluminação não se estabeleceu. Encontro-me com muitas pessoas que pensam que estão iluminadas e despertas, simplesmente porque tiveram uma dramática e muito especial experiência espiritual.
Levam sua iluminação na manga como uma medalha de honra. Sentam-se entre amigos e falam o tanto que estão despertos, enquanto tomam um café em uma cafeteria.

O curioso é que quando a iluminação é autêntica não há nada nem ninguém a reivindicá-la. A iluminação é algo normal; não tem nada de especial. Ao invés de torná-la especial, vai fazê-la menos especial. A iluminação te coloca no centro de uma maravilhosa humildade e inocência.
Os demais podem ou não chamá-lo iluminado, mas quando se está iluminado toda a ideia de iluminação e de alguém que está iluminado é uma grandíssima piada. Eu uso a palavra iluminação o tempo todo - não para te dirigir até ela, mas para ir além. Não fique preso em iluminação.
****************************************************************
O ego é o movimento da mente em direção aos objetos de percepção na forma de apego e de rejeição destes mesmos objetos na forma de aversão.
Isto é basicamente todo o ego. Este movimento de apego e aversão leva à sensação de um "eu" separado, e por sua vez o sentimento do "eu" se fortalece dessa maneira. É este ciclo contínuo de causalidade que ilude a consciência em uma identificação hipnótica. Identificação com o quê? A identificação com o contínuo ciclo de sofrimento. Afinal, quem sofre?

O "eu" é o único sofredor. E quem é esse “eu”? Não é nada mais do que uma sensação originada pela identificação com o apego e a aversão.
Como se vê tudo é uma criação da mente, um interminável filme, um sonho terrível. Não tente mudar o sonho, porque tentar mudá-lo é apenas mais um movimento no sonho.
Olhe para o sonho. Seja consciente do sonho. Essa consciência é Isto. Esteja mais interessado ​​na consciência do sonho do que no próprio sonho. O que é essa consciência? Quem é essa consciência? Não dê uma resposta; simplesmente seja a resposta. Seja Isto.
**************************************************************
Iluminação significa o fim de toda divisão. Não é simplesmente ter uma experiência ocasional da unidade, que transcende toda divisão; na realidade é ser indivisível.Isto é o que de fato significa a não-dualidade. Significa que há um só Ser, sem uma diferença ou brecha entre a revelação profunda da Unidade e a forma em que se percebe e se vive cada momento da vida. Não-dualidade significa que a revelação interior e a expressão externa da personalidade são uma só.
Poucos parecem interessados nas implicações contidas nas profundas experiências espirituais, porquanto a contemplação destas implicações é o que rapidamente traz à consciência as divisões internas existentes na maioria dos buscadores.
***************************************************************
As pessoas espirituais podem ser consideradas dentre as mais violentas que se conhece. Na sua maioria são violentas consigo mesmas. Intentam de modo violento o controle da sua mente, das suas emoções e dos seus corpos.
Enfurecem-se consigo mesmas, e maltratam a si mesmas por não se rebelarem ante a ideia da mente condicionada do que esta acredita ser a iluminação.
Ninguém jamais foi liberado por meio deste tipo de violência. Por que tão poucas pessoas são realmente livres?
Porque elas tratam de amoldar as ideias, conceitos e crenças em suas cabeças. Concentram-se em seu caminho para o céu. Mas a liberdade é sobre o estado natural, a expressão espontânea e natural do ser. Se desejar encontrá-la observa que a própria ideia de uma pessoa no controle é um conceito criado pela mente. Dá um passo para trás em direção ao desconhecido.

Não há nada mais insidiosamente destrutivo para a libertação que duvidar de si mesmo e o cinismo.
A dúvida é um movimento da mente condicionada que sempre diz que "não é possível", que "a liberdade não é possível para mim". A dúvida sempre “sabe”; ela "sabe" que nada é possível. E nesse “saber”, a dúvida te rouba a possibilidade de que te ocorra algo realmente novo ou transformador.

Por outro lado, a dúvida sempre vem acompanhada de um cinismo generalizado, que inconscientemente dá um giro negativo sobre tudo o que toca. O cinismo é uma visão do mundo que protege o ego da investigação, por manter uma postura negativa em relação ao que não conhece, não quer conhecer ou não pode conhecer. Muitos buscadores espirituais não têm nenhuma ideia realmente do quanto são cínicos e o quanto estão cheio de dúvidas.
Esta cegueira e a negação da presença da dúvida e do cinismo é o que torna impossível o nascimento de uma profunda confiança, uma confiança sem a qual a liberação final sempre será apenas um sonho.
****************************************************************
 Todo o medo vem do pensamento na forma de memória (passado) ou projeção (futuro). O pensamento cria o tempo: passado, presente e futuro.
Assim o medo nasce da percepção da existência de tempo. Estar livre do temor é estar livre do tempo. Em virtude de o tempo ser uma criação do pensamento, para estar livre do temor, se deve estar livre de pensamento. Por conseguinte, é importante despertar e experimentar teu Ser fora do pensamento, existindo como a eternidade.
Então, se deve colocar em dúvida todas as ideias sobre si mesmo que sejam criações do pensamento e do tempo - passado, presente e futuro. Experimente a própria eternidade, a própria divindade, e despertará quando estiver convencido de que nunca está sujeito ao movimento do pensamento, do medo ou do tempo. Estar livre do medo é estar cheio de amor.
***************************************************************
Muitos buscadores espirituais ficam "agarrados ao vazio", presos no absoluto e na transcendência. Apegam-se a felicidade, ou a paz, ou a indiferença.
Quando a motivação egoísta de viver desaparece, muitos buscadores se tornam indiferentes. Eles se deparam com a perfeição de toda a existência e não encontram mais razão para fazer qualquer coisa, incluindo cuidar de si mesmo ou de outras pessoas. Eu chamo a isto de "esconder-se num falso refúgio." É uma armadilha muito sutil do ego.

Com esta fixação no absoluto e em toda forma inconsciente de apego se pretende fazer passar isso por liberação.  É muito difícil alguém conseguir despertar com esta fixação ilusória, já que, literalmente, não têm nenhuma motivação para soltá-la. Presos em uma forma de indiferença divina, estas pessoas acreditam ter alcançado o topo da montanha, quando na realidade estão se escondendo dentro das suas próprias tendências ou inclinações.

A iluminação não quer dizer que se deve desaparecer no reino da transcendência. Esta fixação no absoluto é simplesmente o polo oposto de se estar fixado no relativo. Com o advento da verdadeira iluminação há o nascimento do Amor impessoal e da sabedoria, que nunca se fixa em nenhum nível da experiência. Despertar para a visão do absoluto é profundo e transformador, mas despertar de todos os pontos de vista fixos é o nascimento da verdadeira não-dualidade.

Se o vazio não puder dançar, não é o verdadeiro vazio. Se a luz do luar não inunda o vazio céu noturno e não se reflete em cada gota de água, em cada folha de erva, então se está olhando somente para o próprio sonho vazio. Eu digo: "Desperta!" Em seguida teu coração será inundado por um Amor que não pode ser contido.
****************************************************************
Quem sabe possa eu apontar a grande realidade dentro de ti. Quem sabe possa em ti despertar para a experiência direta da realização do Ser. Quem sabe você possa compreender o fogo da transmissão.

Mas há uma coisa que ninguém pode lhe dar: somente a integridade e a honestidade te levarão por completo para o outro lado.  Ninguém pode lhe dar a força de caráter necessária para a experiência espiritual profunda, que se converterá no catalisador da transformação evolutiva chamada "iluminação".
Só você pode descobrir essa paixão que arde dentro com integridade, não se conformará com nada que seja menos do que a Verdade.
****************************************************************
A iluminação não tem nada a ver com os estados de consciência. Quem está na consciência do ego ou na consciência da unidade não é realmente a questão.
Conheci muitas pessoas que acessam facilmente os estados avançados de consciência. Embora percebesse que para algumas pessoas isso pudesse ser atingido com facilidade, também me dei conta de que muitas dessas pessoas não são mais livres do que qualquer outra pessoa.
Se não acredita que o ego possa existir em estados avançados de consciência, você pode estar equivocado.

A questão não é o estado de consciência, inclusive aqueles muito avançados, senão o mistério do despertar, que é a fonte de todos os estados de consciência.
Inclusive é a fonte da presença do Ser. Está [a fonte] além de toda percepção e experiência. Eu chamo isso de "consciência desperta" (*a palavra em inglês aqui utilizada é "awakeness", sem uma tradução precisa e direta para o português. Pode-se dizer, talvez, que é a qualidade ou estado de se estar desperto).

Para saber se se está vazio de todo o vazio tem de morrer no mistério consciente, que é a fonte de toda a existência. Acontece que este mistério está enamorado de toda a sua manifestação e não-manifestação.
Encontrará o teu Ser dando um passo atrás para fora de si mesmo.
****************************************************************
O grande presente de Ramana Maharshi ao mundo não foi a realização do Ser. Muitas pessoas realizaram profundamente o Ser. O verdadeiro presente de Ramana foi o de ter encarnado plenamente essa realização. É que uma coisa é realizar o Ser; porém, é algo completamente distinto encarnar essa percepção a tal ponto de não existir nenhuma brecha entre a revelação interior e sua expressão exterior.

Muitos vislumbraram a realização da Unidade; mas poucos expressaram consistentemente essa realização por intermédio de sua humanidade. Uma coisa é tocar uma chama e saber que é quente, e outra bem diferente é lançar-se em direção a esta chama e ser por ela consumido.

***
Publicado pela primeira vez no Inner Journal, Outono-Inverno de 1999.

© 1999 Adyashanti.

Fonte: Adyashanti.org

* * *

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Tú eres el Buda - Adyashanti

"A partir de ahora, en este momento, te pido que seas el Buda. Te pido que permanezcas quieto, absolutamente firme en tu intención de despertar a la Verdad de tu Ser.
Esto es lo que el Buda hizo. Él no dijo: "Lo intentaré". Él no dijo: "Espero encontrar la Verdad". Él no dijo: "Haré lo que pueda". No dijo: "si no en esta vida, quizás en la próxima vida". Llegó a un punto donde él no buscaba a nadie que le dijera la Verdad o le mostrara la Verdad. Llegó a un punto en que asumió todo por sí mismo. Se sentó solo bajo el Árbol Bodhi y prometió no abandonar hasta que la Verdad fuera realizada.
El poder de esta intención tan simple, pero inquebrantable y la actitud absoluta de ser liberado en esta vida lo impulsó a despertar al simple hecho de que él y todos los seres ya están liberados —que todos los seres son la libertad misma. Pura conciencia despierta.
El Buda no era diferente de ti. No diferente. Es por eso que sirve como un buen modelo, porque él era lo que tú eres ahora. Así que no adores al Buda. No le pongas en un pedestal. Ni siquiera lo admires. Conviértete en él. Ten las mismas intenciones, toma la misma postura. ¡Sé el Buda ahora! Pon fin a toda dilación, a todas las excusas, a todas las reverencias ante las figuras santas del pasado o del presente. ¡Ponte de pie!
¡Tú eres el Buda! ¡Eres la libertad misma! ¡Deja de soñar tu sueño! ¡Deja de fingir que estás en cautiverio —deja de contarte esa mentira! ¡Deja de fingir que eres alguien, o algo! Tú eres nadie, tú eres nada! Tú no eres este cuerpo ni esta mente. Este cuerpo y esta mente existen en quién y lo que tú eres. Eres consciencia pura, ya libre, despierta, y liberada. Ponte de pie y sal de tu sueño. Estoy aquí para decirte que puedes hacer esto.
Sal del sueño de tus conceptos e ideas. Sal del sueño de lo que imaginas que la iluminación es. Sal del sueño de quien crees que eres. Sal del sueño de todo lo que siempre has conocido. Sal del sueño de ser una persona engañada. Deja de decirte a ti mismo esas mentiras y soñar esos sueños. Sal de todo eso. Puedes hacerlo. Nada te detiene. No hay requisitos ni prerrequisitos para despertar. No hay nada que deba ser hecho, nada que pensar, ningún sitio a donde ir.
Simplemente deja todos los sueños. Deja todas las acciones. Deja todas las excusas. Simplemente párate y quédate quieto. Permanece sin esfuerzo. La Gracia hará el resto.
En cada momento de aquí en adelante, ten la intención de experimentar directamente la Verdad, tu verdadero Ser liberado. No pienses acerca de la Verdad —directamente vuelve a tu experiencia aquí, ahora, de instante en instante. Experimenta la Verdad. Experimenta tu Ser. Sumérgete en tu experiencia. ¡Tu experiencia! Tu experiencia de oír, de ver, de gustar, de respirar, de los latidos de tu corazón, de tus pies tocando el suelo, de los pájaros, del viento.

Experimenta la inmensidad de lo que eres. Experimenta la libertad de quien eres. Tú eres el Buda – experimenta eso. Tú eres el Buda."

Adyashanti

segunda-feira, 22 de junho de 2015

BOA NOVA - NISARGADATTA

Esse sentido de ser (o "eu sou") permeia o universo inteiro e, de sua força gravitacional, nascem todas as coisas. 
Trata-se d'Aquele "Amor que move o Sol e as outras estrelas", do Deus onipresente das escrituras, do "Alpha e o Ômega".
Nos seres sencientes, ele gera a sensação de ser e, consequentemente a idéia de individualidade - portanto, de separação - necessária para que essa divina comédia, essa Leela baseada na dualidade, possa se manifestar.

A libertação (auto-realização ou iluminação) representa a clara realização de que, em verdade, não somos esse corpo-mente que acreditávamos ser, mas somos esse mesmo Ser impessoal, Aquilo que é a origem de todo o mundo manifesto.
Descobrimos Aquilo quando, verificados todos os atos falhos da mente para contê-lo, finalmente aceitamos essa impossibilidade e, no silencio dessa entrega, nesse abandono descobrimos uma espécie de "outro sentido"... além de qualquer sentido. Uma apercepção da unidade evidente que somos enquanto Consciência inclusiva. 

Um olhar claro e puro que denota esse esplendido paradoxo (nem isso nem aquilo.....isso e aquilo), essa atenção pacifica.... essa infinita e desconfinada planíce sem tempo, o Ser impessoal que é o Amor e nosso verdadeiro lar.

Esse é o alcance que a descoberta de não ser uma entidade individualizada nos regala.

Essa é a "boa nova".


Nisargadhata

terça-feira, 9 de junho de 2015

LA FELICIDAD EN LOS OBJETOS NO ES PERMANENTE - JAMES SWARTZ

Indagación sobre la felicidad en los objetos (capítulo 1)


El inconveniente de la creencia en la felicidad dependiente de los objetos es que la vida no es permanente. Todos los objetos, incluyendo la mente y las emociones de todos los sujetos, están en un estado de cambio constante. 
Además, si pudiéramos alcanzar la felicidad permanente a través de la posesión y goce de objetos, una vez que hemos alcanzado nuestro objeto deseado nunca surgiría el deseo por otro. Y viceversa, si la felicidad permanente fuera el resultado de la remoción de un objeto, nunca haría falta remover otro. 
Pero la experiencia nos muestra que el deshacernos de un objeto que no queremos no impide que otro aparezca. Además, continuamos deseando objetos, a veces con más ardor, cuando los poseemos y gozamos.
Quizás quiera más de objeto en particular, o menos, o algo totalmente diferente. La satisfacción de mis deseos y la remoción de mis miedos no me brindan satisfacción permanente. Por ejemplo, la gente que asocia la felicidad con un objeto en particular, digamos un estado mental inducido por el alcohol o las drogas, trata de alcanzar ese estado una y otra vez, llegando al punto (y a veces superándolo) en que el objeto ya no brinda placer.
Nadie se siente permanentemente satisfecho con un buen encuentro sexual u otro objeto o actividad que supuestamente produce felicidad. En realidad, los objetos y actividades que producen felicidad frecuentemente producen sufrimiento repentino. Una vez que alcanzamos un objeto dejamos de valorarlo y queremos otro. O aunque la valoración por el objeto no cambie, el objeto eventualmente cambiará y me se llevará consigo mi felicidad.

Trecho retirado do livro "Cómo Alcanzar la Iluminación" 

James Swartz.

domingo, 31 de maio de 2015

CONTROLE DOS DESEJOS - RAMANA MAHARSHI

Diálogos com Ramana Maharshi


O visitante disse: "Deve-se ficar saciado com a realização dos desejos antes de serem renunciados".

Sri Bhagavan sorriu e interrompeu: "O fogo também poderia muito bem ser apagado ao derramar espírito sobre as chamas (Todos riem). Quanto mais os desejos são satisfeitos, mais profundamente cresce a samskara. Eles devem tornar-se mais fracos antes de deixarem de se afirmar... . Essa fraqueza é causada por conter a si mesmo e não por perder-se nos desejos.

D.: Como é que eles podem se tornar mais fracos?

M.: Por conhecimento. Você sabe que você não é a mente. Os desejos estão na mente. Este conhecimento ajuda a controlá-los.

D.: Mas eles não são controlados em nossas vidas práticas.

M.: Cada vez que você tentar a satisfação de um desejo, o conhecimento vem de que é melhor desistir. Repetidas lembranças deste tipo irão, a seu devido tempo, enfraquecer os desejos.

Qual é a sua verdadeira natureza? Como pode você esquece-la? Acordado, sonho e sono são apenas fases da mente. Elas não são do Ser. Você é a testemunha desses estados. Sua verdadeira natureza é encontrada no sono.

Ramana Maharshi